A DGS e a Liberdade, a 25 de Abril de 2021
“O medo não convive bem com a liberdade”, escrevia eu há quase 20 anos logo a seguir ao 11 de Setembro, para argumentar que aquilo que os terroristas pretendiam era precisamente limitar a nossa liberdade criando um clima de medo. Hoje talvez pudesse antes escrever que “o vírus não convive bem com a liberdade” pois com o vírus veio um medo como há muito não sentíamos.
E com o medo veio também a irracionalidade – e muito menos liberdade.”
José Manuel Fernandes – Observador
Em 1972, quando fui estudar para Braga, tive um contacto direto com a então DGS, anteriormente a PIDE, já que era omnipresente em qualquer lugar por onde os estudantes andassem.
A DGS (Direção Geral de Segurança), polícia política do regime salazarista/marcelista, anteriormente designada de PIDE (Polícia Internacional e Defesa do Estado) vigiava tudo e todos.
Velava para que o regime, o estado, estivesse seguro. Seguro de ações de protesto, de ações de rua, de opiniões contrárias aos ditames dos mandantes.
Sobretudo nessa altura, que a oposição à Guerra Colonial fosse abafada.
A DGS via, ouvia, decidia e executava o que bem entendesse. Era omnipresente e omnipotente.
Há 47 anos, neste dia 25 de Abril, o regime caiu, fruto de um golpe militar que visava fundamentalmente resolver questões internas da caserna.
No entanto, fruto da ação popular que lhe seguiu, e posteriormente dos posicionamento políticos que advieram, encetou-se um processo de “democratização” que veio a culminar na III República, em que vivemos.
Aparentemente vivemos num regime livre e democrático.
;Mas eis que apareceu um vírus e uma nova DGS (Direção Geral da Saúde) para nos remeter para um contexto de quase meio século atrás.
A nova DGS, tal como a anterior, é que sabe o que nós podemos fazer, onde podemos andar, que locais podemos frequentar, quais os estabelecimentos de saúde a que podemos recorrer, o que podemos pensar e dizer, que tipo de comportamentos autorizar, até como temos de andar em locais públicos.
Nada a distingue da anterior, apenas o contexto em que se baseia. Anteriormente a segurança do Estado era o pretexto. Hoje é a Saúde Pública.
O medo, a perseguição, eram evidentes sinais de outrora. E hoje?
Como dizia José Manuel Fernandes, acima citado, “E com o medo veio também a irracionalidade – e muito menos liberdade.”
Sintomático que estejamos a comemorar o “25 de Abril”, o Dia da Liberdade, num contexto mais expressivo da falta dela.
Pelo menos, ainda digo o que penso, não sei a que preço… tal como naquela altura.